O que deve ser a História do Espiritismo
A
propósito dessa história, sobre a qual dissemos algumas palavras,
muitas pessoas nos perguntaram o que ela compreenderia e, a respeito,
nos enviaram diversos relatos de manifestações. Aos que julgaram assim
trazer uma pedra ao edifício, agradecemos a intenção, mas diremos que se
trata de algo mais sério que um catálogo de fenômenos espíritas,
encontrado em muitas obras. Devendo o Espiritismo notabilizar-se nos
fastos da Humanidade, será interessante para as gerações futuras saber
por que meios ele se terá estabelecido. Será, pois, a história das
peripécias que tiverem assinalado os seus primeiros passos; das lutas
que tiver enfrentado; dos entraves que lhe terão suscitado; de sua
marcha progressiva no mundo inteiro. O verdadeiro mérito é modesto e não
busca fazer-se valer. É preciso que a posteridade conheça os nomes dos
pioneiros da obra, daqueles cujo devotamento e abnegação merecerão ser
inscritos em seus anais; das cidades que marcharam na dianteira; dos que
sofreram pela causa, a fim de que os abençoem, e dos que fizeram
sofrer, para que orem, para que sejam perdoados; numa palavra, de seus
verdadeiros amigos e de seus inimigos, confessos ou ocultos. A intriga e
a ambição não devem usurpar o lugar que lhes não pertence, nem um
reconhecimento e uma honraria que lhes não são devidos. Se há Judas,
forçoso é que sejam desmascarados. Uma parte não menos interessante é a
das revelações que, sucessivamente, anunciaram todas as fases dessa nova
era e os acontecimentos de toda ordem, que as acompanharam.
Aos
que acharem presunçosa a tarefa, diremos que não temos outro mérito
senão o de possuir, por nossa posição excepcional, documentos que não
estão na posse de ninguém, e que se acham ao abrigo de quaisquer
eventualidades; que, estando o Espiritismo sendo chamado a desempenhar
um grande papel na História, importa que seu papel não seja desnaturado,
e opor uma história autêntica às histórias apócrifas que o interesse
pessoal poderia engendrar.
Quando
aparecerá? Não será tão cedo e talvez não em nossa vida, pois essa obra
não se destina a satisfazer a curiosidade do momento. Se dela falamos
por antecipação, é para que ninguém se equivoque quanto ao seu objetivo e
deixar clara a nossa intenção. Aliás, o Espiritismo está debutando e
muitas outras coisas haverão de acontecer até lá; e, depois, é preciso
esperar que cada um tenha tomado o seu lugar, certo ou errado.
Allan Kardec – Revista Espírita, outubro de 1862.
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